Il Bello — A Valentino de Alessandro Michele
Mesmerizadas, eu, aos treze anos, e minha mãe estávamos rodeadas pela atmosfera branca de um shopping, com os olhos brilhando de admiração diante de tal visão – em tons de borgonha e azul, fluindo em seda, veludo e couro, adornada com estampas florais e laços perfeitamente posicionados – a primeira coleção teatral de Alessandro Michele como diretor criativo da Gucci. Havia uma transformação palpável, uma evolução, e uma convergência harmoniosa de uma beleza sem precedentes. Saciou uma sede persistente pelo extraordinário. O nome de Alessandro Michele, selado como cera vermelha sobre papel estampado com hortênsias, tornou-se uma marca de aprovação, um testemunho da arte presente.
Não para alegar o descobrimento da perfeição – o erro acompanha a grandeza – e ainda assim, a produção encantadora do diretor criativo provou sustentar o jogo exemplar da bellezza. Com seu exílio inesperado, após um reinado de sete anos no trono da Gucci, Michele foi coroado pela Valentino no último mês de abril.
Uma resposta elegante às críticas em torno da coleção surpresa, revelada em junho, o desfile de Primavera/Verão 2025 da Valentino reafirmou o brilho do italiano.
Alessandro Michele exala um gosto refinado, há muito desperdiçado na inclinação modernista da atual concepção de “beleza”. A quase miragem de suas criações transborda como a verdadeira personificação do maximalismo, enraizado na compilação requintada dos mais mínimos detalhes. De fato, são peças de arte, instigando uma caça para descobrir todos os fatores que as compõem e as técnicas exploradas.
Um foco no Il bello revela a antítese à homenagem prestada à função excessivamente simplificada – uma exploração das possibilidades ilimitadas inerentes à própria forma.
E devo concordar, com reservas, às afirmações de “isso é só a velha Gucci” — o trono da Valentino é muito mais adequado para Michele do que o da Gucci jamais foi — esta coleção, um retumbante retorno ao lar, afirma que a imagem da Gucci de 2015 a 2022 foi apenas um florescimento do verdadeiro potencial de Alessandro Michele.
É no vibrante abraço da Valentino que sua arte encontra sua expressão legítima, transcendendo a mera nostalgia para cultivar uma nova visão, que celebra a audácia da beleza em suas formas mais intrincadas.
Carregando uma atmosfera de antiguidade, clássica, mas curiosamente distorcida, a coleção apresenta colares repletos de flores, brincos em formato de coração, como broches de metal e pedra, casacos de pele listrados e laços de fita preta — magistralmente combinados em looks coesos.
Rendas sobre rendas sobre rendas criam conjuntos que navegam por diferentes níveis de “leveza”, adornados com apliques cintilantes de strass.
Combinações de texturas inesperadas e cores contrastantes de alguma forma encontram harmonia, cada look suavemente perfurando o olhar com ousadia, assim como perfuravam os narizes das modelos – ousados e audaciosamente cintilantes.
Nesse reino de opulência, talvez o talento e o bom gosto de Alessandro Michele se tornem mais afiados à medida que suas madeixas e sua coleção de anéis crescem.
Como dizia Venturi, “less is bore”.
Bravíssimo!