Eu me lembro como se fosse ontem—eu tinha dezessete anos, aquela idade em que a vida parece estar sempre à beira de algo grandioso. Foi quando encontrei minha primeira preciosidade: uma jaqueta jeans da Levi’s, coberta de estrelas, cada uma de uma cor, como se alguém houvesse decidido pintar o céu nas minhas costas. Não era só uma jaqueta. Era um portal, um bilhete de entrada para um mundo novo, onde eu não só vestia roupas, mas ideias, histórias e, sem saber, o que viria a ser uma paixão. Por muito tempo, foi minha peça favorita, mas mais do que isso — foi o começo de uma descoberta.

Quando as meninas do Our Closet nos chamaram para colaborar — falar de moda, de consciência, de escolhas — eu já tinha um baú de ideias fervendo. Basta cinco minutos comigo para qualquer um perceber o quanto eu amo o mercado circular, o quanto vibro ao falar de uma peça second hand, com sua história já impressa nas dobras do tecido.

*Jaqueta jeans Levi's via @galoureiroleal*

Na escola, matemática nunca foi meu forte, mas, agora, são os números que contam uma história. Segundo o Business Insider, o mercado da moda é responsável por 10% de toda a emissão de carbono. Dez por cento. Um número que pesa no ar que respiramos. Além disso, a indústria suga a água, seca fontes, polui rios, e, no final de cada ano, 85% dos tecidos que produzimos vão para o lixo, como restos sem valor. A indústria da moda é a segunda mais poluente do mundo, perdendo apenas para a indústria petrolífera. Eu poderia lhe contar mais sobre energia desperdiçada, microplásticos soltos no oceano e tecidos que jamais desaparecerão, mas não quero te cansar com o que parece distante. Quero que você veja de perto.

O lugar mais surreal onde já pus meus pés foi o Deserto do Atacama, no Chile. É mais parecido com Marte do que com a Terra, uma sensação constante de estar fora de órbita, onde o tempo parece outra coisa, outra dimensão. Mas, pela primeira vez, sinto uma tristeza estranha ao ver esse cenário onírico como protagonista de uma história. Todos os anos, caminhões chegam, um após o outro, trazendo 59 mil toneladas de roupas. Elas vêm da Europa, dos Estados Unidos, da Ásia, na esperança de que sejam vendidas. Mas, de todo esse volume, 40 mil toneladas não encontram destino melhor que o chão árido do deserto. Descartadas, largadas. Ali, em um lugar que parece de outro mundo, acumulam-se os restos do nosso, criando uma cena de horror.

Cansei de assunto pesado, conversa cansativa, e tristeza que só frustra. Vamos falar do melhor lado da curadoria: a personalidade. Armários bem montados, recheados de peças que contam histórias, únicas, úteis, e, principalmente, com personalidade. Hoje, a gente sacrifica a individualidade em nome das trends. O consumo se tornou fácil. Uma ida rápida à Zara e pronto: lá está a saia que viralizou no TikTok. Mas é só isso. Uma peça que muitas vezes mal resiste à segunda lavagem, e logo vira lixo. Todo mundo se veste igual, é só olhar ao redor. Parece uma coreografia nas ruas, um desfile de mesmice.

Quando você escolhe a moda circular, garimpa em brechós, sendo físicos ou on-line, é outra narrativa. É abrir portas para o inesperado. Peças que têm alma, que sobreviveram ao tempo, às tendências que já vieram e se foram. São roupas com vida, com marcas e memórias, e, o mais bonito, com um encaixe perfeito na sua história. A moda circular não te empurra para o molde de ninguém, ela te devolve a liberdade de ser quem você é. Você encontra uma jaqueta com um forro inesperado, um vestido que parece feito para você, sapatos que já traçaram outros caminhos. Tudo é único, tudo é seu.

Pensando nisso, juntamente com a Dani e a Bel do Our Closet, reunimos amigas e selecionamos as melhores second-hand stores e brechós ao redor do globo.